O Paradoxo da Diplomacia de Trump

Desde que reassumiu a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump tem intensificado os confrontos contra inimigos reais e imaginários. Sua retórica agressiva busca transmitir força e determinação, apresentando-o como um líder disposto a enfrentar todos aqueles que, em sua perspectiva, ameaçam o poder norte-americano. Contudo, ao analisarmos cuidadosamente os resultados dessas batalhas, percebemos um paradoxo: suas principais vitórias não ocorreram contra adversários históricos, mas sim contra aliados próximos.
A China, a Rússia, o Irã e até a Coreia do Norte são alvos recorrentes em sua narrativa, mas em nenhuma dessas frentes Trump conquistou resultados concretos que alterassem o equilíbrio estratégico. Ao contrário, o enfrentamento apenas fortaleceu a disposição desses países em buscar alternativas ao sistema liderado por Washington.
No que diz respeito a parceiros tradicionais — Japão, Coreia do Sul, União Europeia, Índia e, mais recentemente, o Brasil — o presidente norte-americano tem conseguido progressos evidentes. Tarifas impostas, acordos renegociados sob pressão e exigências assimétricas demonstram que a Casa Branca tem utilizado seu poder para obter concessões exatamente daqueles que historicamente estiveram ao lado dos Estados Unidos. As únicas guerras que Trump tem vencido são contra aliados históricos.
O caso europeu é emblemático. A União Europeia, que sempre foi vista como uma parceira indispensável para manter o equilíbrio global, passou a ser alvo frequente de críticas por “injustiça comercial”. Trump impôs tarifas, ameaçou a indústria da Alemanha – o motor da Europa – e questionou décadas de confiança mútua. O que deveria ser um espaço de cooperação transatlântica tornou-se um campo de disputa, onde os Estados Unidos buscam impor sua vontade por meio da força econômica. A consequência é evidente: cresce no continente a sensação de que não se pode mais contar com Washington como garantidor da ordem internacional.
Essa inversão é significativa e preocupante. O país que, por décadas, se apresentou como o líder do “mundo livre” agora parece ver nos aliados os alvos preferenciais para afirmar sua força. Trump comemora como vitórias aquilo que, na prática, desgasta as bases da confiança mútua. O curto prazo pode lhes trazer benefícios eleitorais, mas a longo prazo, mostra uma lenta erosão da credibilidade americana entre aqueles que sempre sustentaram sua projeção global.
No que diz respeito ao Brasil, o recente episódio das tarifas exemplifica a mesma lógica. Enquanto proclama amizade e proximidade, Trump impõe custos pesados, explorando as fragilidades de parceiros que não possuem a mesma capacidade de resposta. A contradição é evidente.
O resultado é claro: na busca incessante por demonstrar força, Trump acaba revelando fraqueza. Pois não é sinal de grandeza vencer aliados, mas sim uma demonstração de que não se consegue obter vitórias significativas contra os verdadeiros adversários. Isso não é nada promissor para os Estados Unidos.