Os sumos detox: fazem mais mal do que bem?
Com apenas 20 anos, Inês Coutinho resolveu experimentar um plano de detox com sumos, atraída pela promessa de “limpar o corpo e obter resultados rápidos”. Passou o dia inteiro consumindo apenas líquidos, mas a experiência não foi como esperava. “Quase desmaiei pela falta de energia. Adormeci às seis da tarde e só acordei no dia seguinte”, lembra-se da má experiência com essa tendência, que não é tão nova assim.
Antes de se tornarem populares nas redes sociais, os sumos detox tinham uma longa tradição. Desde infusões utilizadas em culturas antigas, como a ayurveda da Índia e a fitoterapia chinesa, até as primeiras experiências de “juicing” promovidas por nutricionistas nos EUA na década de 1930, a ideia de “limpar o corpo” através de líquidos sempre gerou interesse.
O verdadeiro auge ocorreu nos anos 2000, impulsionado pela alimentação natural e crudívora, associado a celebridades de Hollywood como Gwyneth Paltrow e sua Goop, que afirmavam ter descoberto o segredo para emagrecer rapidamente. Logo, a moda se espalhou nas redes sociais, com publicações de influenciadores que traziam expressões como “começar do zero” e “purificar o corpo por dentro”.
Aos 25 anos, Inês Coutinho utiliza a sua experiência pessoal para informar sobre os mitos e verdades dos sumos detox. Durante o curso de Estética e Nutrição na Escola Superior de Saúde de Bragança, experimentou diversos métodos restritivos, incluindo sumos detox e dietas de baixa caloria. No entanto, percebeu que estava desenvolvendo ortorexia, um distúrbio alimentar caracterizado pela obsessão por alimentos considerados saudáveis. Diferente da bulimia ou anorexia, o foco não está no peso, mas na qualidade dos alimentos ingeridos.
Frustrada pelos resultados insatisfatórios, decidiu seguir um novo caminho: avaliar pacientes em processos de emagrecimento em um contexto clínico, evitando restrições e soluções milagrosas. O foco é ajudar a desenvolver hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis.
“Quando ouço falar de sumos detox para emagrecimento, a primeira coisa que me vem à mente é a restrição. Logo penso em privação e em desperdiçar dinheiro”, afirma. A nutricionista compartilha sua experiência: “O resultado? Quase desmaiei. Com a falta de energia, acabei adormecendo às seis da tarde e só acordei no dia seguinte. Não houve sensação de renovação nem perda de peso significativa. Apenas um corpo exausto e um dia perdido”.
A especialista destaca que rins e fígado já desempenham a função de eliminar toxinas naturalmente. “Na dieta que elaboro, já estão incluídos todos os nutrientes necessários para que o corpo opere de forma saudável. Os órgãos estão preparados para realizar a limpeza continuamente, sem depender de modas ou pacotes vendididos a preços exorbitantes,” enfatiza.
Outro aspecto a considerar é o custo. “Há planos de um dia que custam 45€, pacotes de três dias que podem chegar a 150€ e programas semanais que alcançam 300€. Muitas vezes, esses preços são superiores ao de um acompanhamento nutricional completo, que poderia proporcionar resultados reais e sustentáveis.” Além do impacto financeiro, a nutricionista alerta que o consumo prolongado e exclusivo de sumos pode levar à fadiga, oscilações na glicemia, perda de massa muscular e até problemas intestinais.
Outro risco é a falsa sensação de compensação. “Muitas pessoas acreditam que, após alguns dias consumindo sumos, podem voltar a exagerar na comida, como se o detox tivesse anulado todos os excessos. Isso cria um ciclo pouco saudável e totalmente evitável”, alerta.
Entretanto, Inês reconhece a tentação envolvida. “Beber sumos por três dias é muito mais sedutor do que mudar hábitos, ter disciplina na alimentação e treinar regularmente. Mas a verdade é que não precisamos de planos detox para cuidar da nossa saúde ou emagrecer. Precisamos de hábitos consistentes, uma alimentação variada e respeito pelo funcionamento natural do organismo”.
<pApesar de sua postura crítica, a nutricionista não defende a eliminação total dos sumos da alimentação. Esses podem ser incluídos numa dieta equilibrada, desde que não substituam refeições completas. “Um sumo de frutas e legumes pode ser uma boa opção para um lanche, contanto que seja acompanhado de proteína e carboidratos. O problema surge ao esperar que apenas isso faça milagres”, conclui.
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