Amadora

Orgulho na Farda: A Atuação da Polícia da Amadora no Julgamento das FP25

Aos 68 anos, Luís Augusto Miranda desfruta de sua aposentadoria ao lado da esposa, com quem compartilha 40 anos de casação, comemorados em 5 de junho. Agora, sua vida é mais tranquila. Reside na Falagueira, na Amadora, ocupando seu tempo entre o café, os amigos e a família. É um conversador nato, sempre se conectando com as pessoas. Afinal, foram 36 anos de serviço como polícia — e muitas histórias para contar.

Curiosamente, Luís nunca teve a intenção de ser polícia, mas exerceu a profissão com grande orgulho. Ele viveu em uma época em que não se desafiava a vontade dos pais. “Não escolhi ser polícia, foi meu pai quem enviou os documentos para a academia sem me avisar. Eu não sabia de nada. Um dia, recebi um convite em casa para fazer as provas. Fui à Academia na Amadora para os testes físicos e realizei os exames escritos em Portalegre, de onde sou natural.”

Aos 23 anos, ele se tornou apto, mesmo sem ter pensado antes em se tornar agente da lei. “E você não questionou seu pai?”, perguntamos de forma algo ingênua. Luís sorri com condescendência. “Naquela época, isso não acontecia. Havia respeito, aceitávamos as decisões que nossos pais tomavam por nós. É verdade que eu já tinha 23 anos, mas ainda vivia sob o mesmo teto.”

“Ser polícia foi o melhor para mim”

Quarenta e cinco anos depois, ele não se arrepende. “Ainda bem que ele fez isso por mim. Se calhar, foi o melhor para a minha vida. Se não tivesse entrado na polícia, hoje não seria quem sou”, afirma Luís. Atualmente aposentado, vive na Falagueira, mas já residiu na área do Casal de São Brás, ambos na Amadora, onde se mudou “há mais de 40 anos”.

“Passei pela Escola Prática de Polícia de Torres Novas, depois estive no Bairro Alto, fui para a Reboleira, voltei ao Bairro Alto, trabalhei na Polícia Municipal de Lisboa e na seção da PSP do metrô do Marquês de Pombal — foi uma grande escola para mim”, recorda.

O balanço de sua experiência é “extremamente positivo”. “Ser polícia tem seus altos e baixos, como em todas as profissões. Mas os bons momentos foram superiores aos maus”, confessa. O pior momento foi quando, prestando serviço no Bairro Alto, um colega foi assassinado na Rua da Horta Seca. “Eu não presenciei, estava na esquadra, mas ele era um agente muito respeitado”, recorda.

“Felizmente, nunca vivi um susto que me fizesse questionar a vontade de continuar com a farda”, garante. “Antigamente, as pessoas respeitavam mais a polícia, e o Bairro Alto era muito diferente”, enfatiza.

“Hoje em dia, não há comparação. Era o Bairro Alto da prostituição, e só depois vieram os bares, as drogas e os confrontos. Lembro-me do tempo do Frágil, com a Margarida Martins na porta, ela impunha respeito [risos]. Os conflitos violentos eram resolvidos com um soco, tudo por ciúmes de mulheres”, descreve.

Um quarto para nove

Antes de servir no exército, Luís trabalhou em uma fábrica de lanifícios durante cerca de dez anos. “Quando fiz 14 anos, minha mãe me deu como presente de aniversário um emprego nessa fábrica, até eu ir para a tropa. Após o meu serviço militar, voltei a trabalhar lá, mas depois recebi a carta para entrar na polícia e começou uma nova fase”, conta.

Luís não estudou na idade certa. As circunstâncias não permitiram. “Completei a quarta série, mas não fui além. Nunca gostei da escola, mas tinha que estudar. Éramos muitos em casa, com dificuldades financeiras. Meu pai era vendedor de peixe de carrinho, e minha mãe, espanhola, fugiu da Guerra Civil. Éramos sete irmãos”, relata.

“Naquela época, não havia tanto egoísmo; hoje, parece que a preferência é por ter cães em vez de filhos.” Dos sete irmãos, dois faleceram recentemente, nos últimos três anos. “É uma tristeza”, admite.

Cresceu em Portalegre “em uma casa sem condições”. “Dormíamos uns de cabeça e outros de pés, todos na mesma cama. A casa era muito pequena, com apenas um quarto. Havia uma cortina dividindo a área dos meus pais e a nossa, para garantir um pouco de privacidade”, recorda. A casa não tinha água encanada nem eletricidade.

“Higiene era feita de maneira improvisada, usando um recipiente. Primeiro, lavávamos a parte de cima e depois a de baixo. Era assim que era. Nunca tivemos um excesso de comida, mas também não passamos fome. Uma senhora sempre nos ajudava de vez em quando, e minha mãe dividia o que tinha com os filhos.”

Quando foi chamado para a polícia, ele se apresentou em 9 de novembro de 1981, em Torres Novas. “Fui nervoso, porque na época tinha um emprego na fábrica e precisei me despedir”, afirma.

“Tenho muito orgulho nesta farda”

À noite, após o trabalho, ele ia para a escola, por obrigação, não por vontade. “Fiz muitos amigos nesse tempo na polícia. Tenho muito orgulho de ter vestido essa farda. A PSP é uma grande instituição, mas hoje é totalmente diferente. Antigamente havia respeito pela polícia que hoje em dia não existe mais”, recorda, embora ressalte que as condições de trabalho eram muito piores. “Não havia escalas; só descansávamos uma vez por mês. As condições dos policiais melhoraram, hoje seria impensável ver um agente a pé”, exemplifica.

“Quando fui para o Bairro Alto, recebíamos uma caderneta com as ruas que precisávamos patrulhar. Era nos dada a lista de carros a serem apreendidos e três moedas de 25 tostões para eventuais telefonemas. Não havia celulares”, relata.

Ao se aposentar em 2017, aos 60 anos, manteve apenas a boina, que guarda com muito carinho em um saco verde que leva consigo. A farda, a pistola e os utensílios foram entregues ao se despedir.

“Sinto muito orgulho do meu percurso. Se tivesse que repetir, faria tudo igual.” Ele não mudaria nada, pois foi “testemunha viva de uma parte da História”, destaca. “Assisti ao julgamento das FP25 no Tribunal de Monsanto, vi muitas casas sendo demolidas ilegalmente e o realojamento de pessoas em Lisboa no âmbito do PER.”

O filho não se comove com a história de vida do pai como autoridade. “Trabalha em uma empresa de marketing e produção de eventos. Ele se formou para isso. E eu não o forcei a nada. Ele tomou suas próprias decisões e já me presenteou com um neto”, conclui com um sorriso no rosto.

Carregue na galeria para ver algumas imagens de Luís, já aposentado e em ação.

Pat Pereira

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