Nova pesquisa revela o que realmente está escondido na água mineral engarrafada

O paraíso ensolarado das ilhas Phi Phi, na Tailândia, não é o ponto de partida usual para um doutorado. Mas para Sarah Sajedi, aquelas praias de areia macia – ou melhor, o que encontrou debaixo delas – inspirou sua mudança de uma carreira empresarial para o meio acadêmico.
“Eu estava ali, olhando para a linda vista do Mar de Andaman, e então olhei para baixo e debaixo dos meus pés havia todos esses pedaços de plástico, a maioria deles garrafas de água,” ela diz.
“Sempre tive uma paixão pela redução de resíduos, mas percebi que isso era um problema de consumo.”
Sajedi, BSc ’91, decidiu retornar à Concordia para realizar um doutorado com foco em resíduos plásticos. Como co-fundadora da ERA Environmental Management Solutions, uma das principais fornecedoras de software de gestão ambiental, saúde e segurança, ela trouxe décadas de experiência para complementar seus estudos.
Seu mais recente artigo, publicado no Journal of Hazardous Materials, examina a ciência por trás dos riscos à saúde impostos por garrafas de água plásticas de uso único. Eles são sérios, ela afirma, e gravemente subestimados.
Amenças pequenas, pouco conhecidas
Em sua revisão de mais de 140 artigos científicos, Sajedi escreve que os indivíduos ingessam, em média, entre 39.000 e 52.000 partículas de microplástico por ano, e os usuários de água engarrafada consomem 90.000 partículas a mais do que os consumidores de água da torneira.
As partículas geralmente são invisíveis a olho nu. Uma partícula de microplástico pode variar entre um micrón – um milésimo de milímetro – até cinco milímetros; nanoplásticos são menores que um micrón.
Elas emergem à medida que as garrafas são fabricadas, armazenadas, transportadas e degradadas ao longo de suas vidas úteis. Como são frequentemente feitas de plástico de baixa qualidade, elas liberam pequenos pedaços sempre que são manipuladas e expostas à luz solar e variações de temperatura. E, ao contrário de outros tipos de partículas plásticas, que entram nos corpos humanos através da cadeia alimentar, estas são ingeridas diretamente da fonte.
Como Sajedi observa, as consequências para a saúde podem ser graves. Uma vez dentro do corpo, esses pequenos plásticos podem cruzar barreiras biológicas, entrar na corrente sanguínea e alcançar órgãos vitais. Isso pode levar a inflamações crônicas, estresse oxidativo nas células, desregulação hormonal, reprodução prejudicada, danos neurológicos e vários tipos de câncer. Contudo, os efeitos a longo prazo permanecem mal compreendidos devido à falta de testes amplos e métodos padronizados de medição e detecção.
Sajedi identifica múltiplos métodos que os pesquisadores têm usado para medir nano- e microplásticos, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens. Alguns, por exemplo, podem detectar partículas muito pequenas, mas não conseguem identificar sua composição química. Outros podem fornecer detalhes sobre sua composição, mas perdem os plásticos menores. E as ferramentas mais avançadas e confiáveis são frequentemente extremamente caras e nem sempre estão disponíveis.
A educação é a melhor prevenção
Sajedi se sente encorajada pela ação legislativa adotada por governos ao redor do mundo, visando limitar os resíduos plásticos. No entanto, ela observa que os alvos mais comuns são sacolas plásticas de uso único, canudos e embalagens. Poucos abordam a questão premente das garrafas de água de uso único.
“A educação é a ação mais importante que podemos tomar,” ela diz. “Beber água de garrafas plásticas é aceitável em uma emergência, mas não deve ser algo usado no dia a dia. As pessoas precisam entender que a questão não é a toxicidade aguda – é a toxicidade crônica.”
Chunjiang An, professor associado, e Zhi Chen, professor, do Departamento de Engenharia Civil, Ambiental e de Edificações da Gina Cody School of Engineering and Computer Science contribuíram para este artigo.
Esta pesquisa foi apoiada pelo Conselho de Ciências Naturais e Engenharia do Canadá e pela Universidade de Concordia.