Execução dos Fundos PRR quase dobrou: de 370 milhões em dezembro de 2024 para 700 milhões em julho

O Banco Português de Fomento está a implementar quatro programas, no montante total de 1.300 milhões de euros, com recursos oriundos do PRR. Teresa Fiúza, CIO do banco, destaca que, desde a nova administração, a execução desses programas quase duplicou: passando de 370 milhões de euros executados em dezembro de 2024 para cerca de 700 milhões de euros em julho de 2025.
Teresa Fiúza exerce a função de Chief Investment Officer no Banco Português de Fomento (BPF). A gestora, responsável pelos programas Consolidar, Venture Capital e pelos fundos de co-investimento público-privado, assumirá também uma nova área do banco, a Direção de Habitação.
Em entrevista ao Jornal Económico na rubrica semanal “Decisor da Semana”, a administradora fez um balanço da execução dos fundos do PRR, que em poucos meses quase duplicou. “Passámos de 370 milhões de euros executados em dezembro de 2024 para cerca de 700 milhões de euros em julho de 2025”, declara.
No que diz respeito aos programas diretos do BPF, especialmente no Programa de Recapitalização Estratégica, a gestora informou que “atualmente, temos cerca de 50 operações em análise, totalizando mais de 200 milhões de euros, o que demonstra a procura por produtos de capitalização no setor empresarial português”.
O Banco Português de Fomento (BPF) está a iniciar um novo ciclo. Teresa, você é responsável pelos programas Consolidar, Venture Capital e pelos fundos de co-investimento público-privado. Poderia fornecer um balanço atualizado sobre a execução de cada um desses programas? Estão a atingir os objetivos?
O Banco Português de Fomento está a implementar quatro programas, avaliados em 1.300 milhões de euros, financiados pelo PRR. Nos programas Deal by Deal e Recapitalização Estratégica, o BPF investe diretamente na capitalização de empresas, enquanto nos programas Consolidar e Venture o BPF investe em fundos de Private Equity e Venture Capital, que posteriormente investem em empresas.
Desde a chegada da nova administração, agora completa desde o final de fevereiro deste ano, a execução desses quatro programas quase duplicou: subimos de 370 milhões de euros executados em dezembro de 2024 para cerca de 700 milhões de euros em julho de 2025.
Esse resultado nos enche de orgulho e reflete uma significativa mudança de desempenho fundamentada em quatro pilares: foco nas empresas e nos investimentos; rigor e transparência nas decisões; gestão planejada do pipeline e integração com uma comissão independente de avaliação; e construção de parcerias e proximidade com empresas, investidores e fundos de investimento.
Analisando cada programa individualmente, no âmbito dos Programas de Investimento Indireto, o Programa Consolidar viu os valores executados aumentar de 196 milhões de euros em 2024 para 300 milhões de euros até julho de 2025. O Programa de Venture Capital, por sua vez, subiu de 65 milhões de euros executados em 2024 para 196 milhões de euros em julho de 2025 (+74%).
Nos Programas de Investimento Direto, o Programa de Recapitalização Estratégica avançou de 87 milhões de euros executados em 2024 para 107 milhões de euros até julho de 2025; enquanto o Programa de Coinvestimento Deal-by-Deal incrementou de 22 milhões de euros executados em 2024 para 79 milhões em julho.
Como estão a funcionar os programas diretos do BPF (Programa de Recapitalização Estratégica e Programa Deal-by-Deal), sem parcerias com sociedades de capital de risco, ambos com um orçamento total de até 200 milhões de euros? Na última conversa, mencionou que “são programas que estão a ter execução abaixo do esperado, mas estamos a fortalecer o pipeline e esperamos trazer em breve novidades mais positivas”. Estão a conseguir melhorar a execução?
É interessante que mencione essa frase, dita em um contexto de compromisso, durante a apresentação dos resultados dos primeiros 100 dias de mandato da atual Comissão Executiva. Tínhamos acabado de assumir, já com ideias claras sobre os próximos passos. Sabíamos da necessidade de mudar processos, melhorar tempos de resposta e, principalmente, aproximar-nos das empresas e parceiros.
Os resultados mencionados na resposta anterior provam que melhoramos a execução de capital diretamente nas empresas. Nos meses recentes, praticamente dobramos o montante investido e comprometido, e temos um pipeline muito relevante em análise.
Nos últimos meses, aprimoramos nossa cultura de serviço, oferecendo respostas rápidas, com processos ágeis e capacidade de decisão; estabelecemos um Comitê de Investimentos e Capital, que se reúne regularmente para decisões eficazes e focadas na qualidade do investimento; implementamos um sistema de propostas que passa por todos os órgãos internos e externos do banco, mantendo a ênfase na qualidade das decisões e no tempo de resposta; e gerimos nossas relações com co-investidores, fundadores de empresas e fundos de investimento com proximidade, rigor e resultados satisfatórios.
Para reforçar essas mudanças internas, aumentamos nossa participação ativa em eventos voltados aos públicos-alvo dos nossos programas, o que nos permite divulgar proativamente as oportunidades disponíveis e captar bons projetos, ampliando nosso pipeline de potenciais investimentos e disponibilizando assistência aos empreendedores sobre os programas e funções do banco.
Tudo isso é fruto do esforço conjunto da equipe, das áreas de investimento às áreas centrais, com o objetivo de implementar o PRR dentro do prazo. Estamos comprometidos e vamos alcançar esse objetivo!
Em junho, o Banco Português de Fomento concluiu um investimento de 9,9 milhões na Estoril Living através do Programa de Recapitalização Estratégica. Existem mais investimentos previstos?
Desde maio, estamos a investir em uma empresa por semana através dos programas de investimento direto (Deal by Deal e Recapitalização Estratégica). Neste momento, temos cerca de 50 operações em análise, totalizando mais de 200 milhões de euros, o que indica um forte interesse por produtos de capitalização no setor empresarial português. Convido todos os leitores a seguir a página do LinkedIn do banco para atualizações sobre esses e outros acontecimentos relevantes que refletem a dinâmica da nossa equipe de gestão e do banco.
O Governo anunciou o Programa Reforçar, que destina mais de 10 mil milhões de euros para apoiar a competitividade, exportação e internacionalização das empresas portuguesas, em especial aquelas mais vulneráveis a flutuações dos mercados internacionais, onde o Banco de Fomento também está envolvido. Como será esse processo e quais empresas são elegíveis? Quais são as expectativas?
Em junho, lançamos a Linha BPF Invest Export com um montante total de 3.500 milhões de euros. Esta nova linha visa apoiar o investimento e o fundo de maneio das empresas exportadoras portuguesas, facilitando a sua adaptação e expansão em mercados novos, especialmente fora da União Europeia.
Inicialmente, a linha estará acessível apenas para Micro, Pequenas e Médias Empresas (PME) portuguesas que registrem vendas para o exterior no encerramento do exercício de 2024. Na sublinha de Investimento, até 20% do financiamento pode ser convertido em apoio não reembolsável, dependendo dos limites disponíveis sob o regime de auxílios de Estado aplicável, e condicionado ao cumprimento de metas de desempenho, a serem avaliadas três anos após a contratação.
Até o momento, em relação às linhas lançadas – Linha BPF InvestEU e Linha BPF Invest Export PME, os resultados são os seguintes: na Linha BPF InvestEU, mais de 22 mil candidaturas foram recebidas, totalizando 2,5 mil milhões de euros aprovados e 1,8 mil milhões de euros contratados.
Na Linha BPF Invest Export PME, foram mais de 4 mil candidaturas, com um montante aprovado de 1,3 mil milhões de euros e 542,37 milhões de euros contratados.
O que mudou no Banco de Fomento com a nova equipe de gestão? A conexão do banco com as plataformas digitais do Estado para agilizar as solicitações aos programas foi um diferencial?
A digitalização é uma prioridade clara e a integração com as plataformas digitais do Estado foi crucial, evitando duplicação de documentos e reduzindo a burocracia. Contudo, fomos além disso: iniciamos um contato direto com as empresas, pré-aprovando limites de crédito para mais de 145 mil empresas, informando-as desses limites, para que, ao procurarem financiamento junto de seus bancos comerciais, já tivessem uma pré-aprovação da nossa parte. Essa mudança diminuiu significativamente o tempo de resposta e de contratação. Também simplificamos os processos e os documentos contratuais sem comprometer a rigorosidade.
Foi uma transformação estrutural que possibilitou atender mais empresas e incentivá-las a investir, criando condições financeiras favoráveis, e fizemos isso proativamente, com base na vasta experiência em marketing bancário do Gonçalo Regalado, nosso CEO.
Como se dá a relação do Banco de Fomento com os bancos comerciais? A cooperação é eficiente? Ou os interesses são conflitantes?
Os bancos comerciais desempenham um papel complementar ao do Banco Português de Fomento. Eles são nossos parceiros de financiamento para as empresas, pois são eles que disponibilizam o capital. Com a garantia de que uma parte do crédito é assegurada por nós, eles podem oferecer prazos de financiamento mais longos, taxas de juros menores ou valores superiores, sem comprometer seu capital. Isso nos ajuda a cumprir nossa missão de facilitar o acesso ao crédito para as empresas portuguesas e auxilia os bancos a expandirem sua atividade de crédito sem prejudicar seus índices.
O tecido empresarial em Portugal é composto principalmente por PME e microempresas. O capital de risco/private equity desempenha um papel decisivo no crescimento dessas empresas? Existe disposição por parte dos empresários para entrar em processos de consolidação a fim de aumentar sua dimensão? Ou ainda persiste a resistência, especialmente entre empresas familiares, em buscar fundos de private equity?
Não tenho dúvida de que a capitalização acelera o crescimento. Como exemplo positivo, compartilho que, em dois dos nossos programas mais antigos, as empresas investidas aumentaram suas vendas em média de 180%, e as exportações superaram 300%, comparando os dados antes do investimento e no momento do exit ou atualmente, se ainda estiverem integradas ao portfólio.
Na última década, vimos uma grande evolução na indústria de venture capital/private equity em Portugal: formaram-se mais equipas, algumas com experiência internacional, foram disponibilizados fundos públicos e desmistificadas algumas apreensões. Temos muitos casos de sucesso que reforçam a confiança nesse modelo, mesmo que haja exemplos menos positivos que acabam recebendo mais atenção. Muitas vezes, vemos empresas que poderiam ter sido salvas se tivessem aberto seu capital em tempo.
Há ainda um longo caminho a percorrer, e é essencial que haja um alinhamento significativo entre o investidor e a investida, pois ao longo do período de investimento, muitas decisões precisam ser tomadas e é saudável que exista conforto mútuo.
A fusão da Norgarante com a Lisgarante, Garval e Agrogarante foi aprovada pelos acionistas, visando criar uma única entidade sob a liderança do Banco de Fomento. Quando se espera que a fusão seja concluída e quando serão sentidas as vantagens de uma sociedade de garantia mútua mais forte, com maior capacidade de operação?
No final de julho, foi aprovada, em Assembleia Geral, a fusão das quatro sociedades de garantia mútua – Norgarante, Lisgarante, Garval e Agrogarante. O processo de fusão foi submetido ao Banco de Portugal e está em fase de avaliação pelas entidades reguladoras. A expectativa é que a fusão esteja concluída até o final de 2025. A criação de um único operador público de garantias busca assegurar uma atuação mais coordenada e robusta, aumentando a capacidade de resposta aos desafios de financiamento da economia portuguesa.
Você ficará responsável pela área de habitação no BPF? O que será feito nessa área e quais são as metas?
A Direção de Habitação do Banco Português de Fomento será criada para promover o investimento habitacional sustentável e acessível, com a missão de desenvolver soluções financeiras que impactem diretamente as condições de vida das famílias e respondam ao desafio habitacional em Portugal.
Vamos abordar diversas áreas, tanto públicas quanto privadas. Prometo trazer mais novidades em breve, quando estivermos preparados com programas bem delineados e alinhados com todos os interessados.
Teresa, você tem uma longa carreira na banca e na relação com as empresas. Notou uma evolução significativa nas empresas portuguesas ao longo do tempo? Se sim, como?
Considero-me privilegiada por acompanhar de perto a evolução do tecido empresarial português e observar como as empresas conseguiram se adaptar aos diversos contextos e ciclos.
Foram as empresas portuguesas que, com resiliência e dedicação, ajudaram o país a sair do cenário de intervenção externa. Elas descobriram novos mercados de exportação quando os nacionais e de outras regiões encolheram.
Hoje, as empresas estão mais atentas às oportunidades, investiram em meios para aumentar a eficiência e estão mais focadas em resultados do que apenas em volume.
o que mais me entusiasma é a ambição! Nos segmentos do têxtil e calçado, por exemplo, já não nos contentamos em produzir exclusivamente para terceiros: temos marcas portuguesas com qualidade e visibilidade nos mercados estrangeiros. E não posso deixar de destacar o esforço notável na área de inovação, no ecossistema de start-ups, incubadoras, aceleradoras, na qualidade de nossa academia e na evolução dos instrumentos de financiamento e capitalização.
Os empresários portugueses têm evoluído? O que explica essa evolução?
Os empresários são verdadeiros heróis nacionais. Eles têm demonstrado visão, capacidade de adaptação e resiliência. Atualmente, o nível de sofisticação aumentou, e vejo uma maior proximidade das novas gerações com as principais decisões.
Além disso, noto um aumento significativo de empresárias com histórias de sucesso inspiradoras que merecem ser contadas e que podem servir de exemplo para outras.
O seu trabalho é bastante exigente. Como você equilibra isso com a vida pessoal e familiar?
Com muita habilidade e negociação (na maioria das vezes, comigo mesma). A vida é um quebra-cabeça em que tudo precisa se encaixar para fazer sentido. Além da minha carreira, sou mãe, mulher, filha e amiga; todas essas facetas da minha vida são importantes e inegociáveis. Tenho a sorte de ter uma família e amigos que compreendem minhas ausências, mas que também me chamam à razão quando elas se prolongam.
Até agora, qual das suas funções mais a realizou?
Todas as minhas funções trouxeram desafios e alegrias, e não consigo escolher uma em particular. O que sinto atualmente, assumindo esta função tão gratificante, é que meu percurso anterior foi moldado para chegar até aqui. Minha experiência na banca, na Lisgarante e no capital de risco abarca os três pilares fundamentais do Banco Português de Fomento, e meu empenho é aplicar essa experiência para melhorar as condições das empresas e facilitar a vida dos empresários em nosso país.
Que sonhos você gostaria de ver concretizados?
Ver mais mulheres em cargos de administração em empresas, sejam elas start-ups, pequenas, médias, grandes, corporativas, familiares, bancos ou fundos de capital de risco, TODAS!
Com qual citação você se identifica?
“A simplicidade é o último grau de sofisticação”, de Leonardo da Vinci.