Denúncias contra António Capelo levam Marcha do Orgulho do Porto a convocar manifestação na segunda-feira
Diante das denúncias de suposto assédio envolvendo António Capelo, ator e fundador da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), a Marcha de Orgulho do Porto organizou uma manifestação nesta segunda-feira, às 18h, em frente ao Teatro do Bolhão, no Porto, onde está localizada a escola.
“A cultura e a educação não podem ser cúmplices de assédio, abuso e silenciamento. A ACE falhou em proteger estudantes, escolhendo preservar reputações. Não nos calamos”, afirma a publicação nas redes sociais que divulga a nota de repúdio da Marcha do Orgulho do Porto.
“A Marcha do Orgulho do Porto expressa seu profundo repúdio às denúncias de assédio e abuso de poder envolvendo António Capelo, fundador da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE)”, está escrito. “Após a divulgação pública dos casos, a atual direção anunciou sua demissão; uma decisão tardia que não apaga décadas de negligência, conivência e silenciamento”, acrescentam.
O movimento acusa a escola de artes do Porto de perpetuar “uma cultura de silêncio, cumplicidade e minimização” após relatos de ex-alunos da ACE que vieram à tona nos últimos dias, narrando situações de alegado assédio, intimidação e abuso de poder por parte de António Capelo ao longo de várias décadas.
“Esse padrão de abusos só foi possível porque, ao longo dos anos, a instituição silenciou denúncias e não instaurou processos internos; descredibilizou queixas feitas por alunos, tratando-as como exageros ou conflitos pessoais; intimidou quem se atrevia a denunciar com ameaças que comprometiam sua vida acadêmica ou profissional, além de proteger a reputação de figuras de poder em detrimento da segurança e do bem-estar dos estudantes”, diz ainda a nota. “Não podemos esquecer que, por trás de cada denúncia, existem pessoas que enfrentam consequências emocionais profundas: medo, ansiedade, vergonha, insegurança e marcas que perduram por toda a vida. O abandono institucional e a desvalorização das queixas agravam esse sofrimento, levando muitas vítimas a sentir que sua dor é invisível e que seu testemunho não merece ser ouvido. Afastar os acusados apenas após as denúncias serem feitas não apaga anos de práticas encobertas e de negligência”.
A Marcha do Orgulho do Porto exige o reconhecimento público da gravidade das denúncias contra António Capelo, apoio psicológico, jurídico e social às vítimas, garantindo segurança e confiança em todo o processo, uma investigação independente e transparente das situações relatadas, responsabilização institucional por anos de silenciamento, minimização e cumplicidade, além de canais seguros e eficazes de denúncia que assegurem anonimato, proteção e imparcialidade, de acordo com as normas em vigor em Portugal em 2025.
António Capelo, de 69 anos, é acusado nas redes sociais por supostas práticas de assédio sexual a alunos e ex-alunos do gênero masculino, alguns dos quais eram menores na época das alegadas situações de assédio. Após o assunto ganhar atenção da imprensa, o ator registrou uma queixa-crime contra uma das páginas do Instagram que divulgou os testemunhos das supostas vítimas e, em comunicado enviado a veículos de comunicação, descreveu as acusações como “graves e totalmente distorcidas da realidade”, questionando sua “honra”, sua “vida profissional” e sua “vida privada”. Em declaração ao Observador, a ACE garante nunca ter recebido qualquer queixa formal ou informal contra Capelo e esclarece que o ator não leciona na escola há três anos.