Cientistas descobrem interruptor de células cerebrais que pode reverter os efeitos da obesidade

Dietas ricas em gordura e a obesidade afetam a estrutura e a função dos astrócitos1, células cerebrais em forma de estrela localizadas no estriado, uma região do cérebro envolvida na percepção do prazer gerado pelo consumo de alimentos. O que é ainda mais surpreendente é que a manipulação desses astrócitos in vivo em camundongos pode influenciar o metabolismo e corrigir certas alterações cognitivas associadas à obesidade (por exemplo, a capacidade de reaprender uma tarefa). Esses resultados, descritos por cientistas do CNRS2 e da Université Paris Cité, foram recentemente publicados na revista Nature Communication.
Essas descobertas reafirmam a ideia de que os astrócitos (muitas vezes negligenciados em favor dos neurônios) desempenham um papel fundamental na função cerebral. Elas também demonstram, pela primeira vez, a capacidade dos astrócitos de restaurar a função cognitiva no contexto da obesidade, abrindo novas avenidas de pesquisa para identificar seu papel exato no metabolismo energético.
Essas conclusões foram alcançadas utilizando uma combinação de abordagens ex vivo e in vivo em roedores, incluindo técnicas quimogenéticas3, imagem cerebral, testes de locomoção, comportamento cognitivo e medições do metabolismo energético do corpo.
Notas
- Ao contrário dos neurônios, os astrócitos (células do sistema nervoso) não geram atividade elétrica, o que tornou seu estudo mais difícil no passado. No entanto, graças a melhorias nas técnicas de observação, agora sabemos que sua estreita cooperação com os neurônios é essencial para o funcionamento adequado do sistema nervoso.
- Relatando à l’Unité de biologie fonctionnelle et adaptative (CNRS/Université Paris Cité). Cientistas do l’Institut de biologie Paris-Seine (CNRS/Inserm/Sorbonne Université) também estiveram envolvidos.
- O cálcio é um elemento químico essencial para a função dos astrócitos, permitindo que a atividade sináptica seja modulada. A técnica quimogenética empregada baseou-se no uso de um vírus para expressar, de forma direcionada nos astrócitos, uma proteína que poderia modular o fluxo de cálcio na célula, funcionando como um interruptor. Os cientistas conseguiram assim estudar o efeito desses fluxos de cálcio na atividade dos astrócitos e dos neurônios ao redor.