Autópsia confirma que morte em direto de francês não foi causada por trauma

O streamer francês que morreu em direto após dias de abusos por parte de outros utilizadores não faleceu devido a trauma ou intervenção de terceiros, anunciaram as autoridades judiciais nesta sexta-feira.
A França ficou em estado de choque com a morte de Raphael Graven, de 46 anos, conhecido online como Jean Pormanove, que faleceu durante uma transmissão na plataforma Kick, depois de vários dias de violência e humilhação em direto.
O procurador de Nice, no sul do país, informou que a autópsia não revelou lesões traumáticas que justificassem a morte, apontando antes para causas médicas ou toxicológicas. Análises complementares foram encomendadas, uma vez que Graven tinha problemas cardíacos e estava em tratamento para a tiroide.
Em declarações à rádio franceinfo, Clara Chappaz, secretária de Estado da Inteligência Artificial e do Digital, comentou que em alguns vídeos Graven pode ser ouvido a pedir que os abusos parassem e a manifestar vontade de chamar a polícia.
“Todo o país está em choque com o que aconteceu… Vivemos num mundo onde a realidade ultrapassa a ficção, em que se pode ver alguém a morrer num canal de televisão e onde as pessoas assistem horas a fio a vídeos de humilhação”, afirmou.
Chappaz criticou o que chamou de “faroeste digital” e acusou a plataforma Kick, de capital australiano, de falhar na moderação de conteúdos.
“Esta plataforma, criada há três anos, está claramente desligada da realidade”, declarou, acrescentando que, se for confirmada a falta de cumprimento dos padrões de moderação por parte da Kick, o Governo francês tomará medidas “sanções”, sem especificar quais.
A filial francesa da Kick declarou que está a cooperar com as autoridades e a rever os seus conteúdos em território francês.
Entretanto, Chappaz informou que o regulador francês da comunicação digital e audiovisual, Arcom, abriu uma investigação ao caso, assegurando que, se o atual enquadramento legal for considerado insuficiente, este será reforçado.
Nesta sexta-feira, a Arcom revelou que a Kick levantou o bloqueio ao canal “jeanpormanove” – uma medida imposta após a morte de Graven – justificando que precisava de aceder aos conteúdos. Contudo, o desbloqueio permitiu novamente ao público assistir aos vídeos, uma decisão que o regulador condenou.
“Disponibilizar as gravações às autoridades não justifica levantar o bloqueio do canal para o público em geral”, afirmou a Arcom, alertando que poderá tomar medidas caso a restrição não seja rapidamente restabelecida.
A Kick não respondeu aos pedidos de comentário.