Adoçantes em bebidas dietéticas podem roubar anos do cérebro

- O estudo seguiu 12.772 adultos com idade média de 52 anos.
- Os pesquisadores acompanharam sete adoçantes artificiais normalmente encontrados em alimentos ultra-processados, como água saborizada, refrigerantes, bebidas energéticas, iogurte e sobremesas com baixo teor calórico.
- Pessoas que consumiram as maiores quantidades totais desses adoçantes apresentaram um declínio mais rápido nas habilidades de pensamento e memória em comparação com aquelas que consumiram as menores quantidades.
- O declínio mais rápido equivaleu a cerca de 1,6 anos de envelhecimento.
- Os pesquisadores encontraram uma ligação em pessoas com menos de 60 anos, mas não em pessoas acima dessa idade.
- Embora o estudo tenha encontrado associações, não prova que os adoçantes causam declínio cognitivo.
Alguns substitutos do açúcar podem trazer consequências inesperadas para a saúde cerebral a longo prazo, de acordo com um estudo publicado na edição de 3 de setembro de 2025 da revista Neurology®, do American Academy of Neurology. O estudo examinou sete adoçantes com baixo e nenhum calorias e constatou que pessoas que consumiram as maiores quantidades experimentaram um declínio mais rápido nas habilidades de pensamento e memória em comparação com aquelas que consumiram as menores quantidades. A ligação foi ainda mais forte em pessoas com diabetes. Embora o estudo tenha mostrado uma ligação entre o uso de alguns adoçantes artificiais e o declínio cognitivo, não provou que eles eram uma causa.
Os adoçantes artificiais examinados no estudo foram aspartame, sacarina, acesulfame-K, eritritol, xilitol, sorbitol e tagatose. Esses são encontrados principalmente em alimentos ultra-processados, como água saborizada, refrigerantes, bebidas energéticas, iogurte e sobremesas com baixo teor calórico. Alguns também são usados como adoçantes independentes.
“Adoçantes com baixo e nenhum calorias são frequentemente vistos como uma alternativa saudável ao açúcar, no entanto, nossas descobertas sugerem que certos adoçantes podem ter efeitos negativos na saúde cerebral ao longo do tempo”, disse a autora do estudo, Claudia Kimie Suemoto, MD, PhD, da Universidade de São Paulo, no Brasil.
O estudo incluiu 12.772 adultos de todo o Brasil. A idade média era de 52 anos, e os participantes foram acompanhados por uma média de oito anos.
Os participantes preencheram questionários sobre dieta no início do estudo, detalhando o que comeram e beberam no ano anterior. Os pesquisadores os dividiriam em três grupos com base na quantidade total de adoçantes artificiais que consumiram. O grupo mais baixo consumiu, em média, 20 miligramas por dia (mg/dia) e o grupo mais alto consumiu em média 191 mg/dia. Para o aspartame, essa quantidade é equivalente a uma lata de refrigerante diet. O sorbitol teve o maior consumo, com uma média de 64 mg/dia.
Os participantes foram submetidos a testes cognitivos no início, no meio e no final do estudo para acompanhar as habilidades de memória, linguagem e pensamento ao longo do tempo. Os testes avaliaram áreas como fluência verbal, memória de trabalho, recordação de palavras e velocidade de processamento.
Após ajustar fatores como idade, sexo, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, os pesquisadores descobriram que as pessoas que consumiram a maior quantidade de adoçantes apresentaram um declínio mais rápido nas habilidades de pensamento e memória do que aquelas que consumiram a menor quantidade, com um declínio 62% mais rápido. Isso equivale a cerca de 1,6 anos de envelhecimento. Aqueles no grupo intermediário tiveram um declínio 35% mais rápido do que o grupo mais baixo, equivalente a cerca de 1,3 anos de envelhecimento.
Quando os pesquisadores analisaram os resultados por idade, descobriram que as pessoas com menos de 60 anos que consumiram as maiores quantidades de adoçantes apresentaram um declínio mais rápido na fluência verbal e na cognição geral em comparação com aquelas que consumiram as menores quantidades. Eles não encontraram ligações em pessoas acima de 60 anos. Também descobriram que a ligação com o declínio cognitivo mais rápido era mais forte em participantes com diabetes do que naqueles sem diabetes.
Ao analisar os adoçantes individuais, o consumo de aspartame, sacarina, acesulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol foi associado a um declínio mais rápido na cognição geral, especialmente na memória.
Não foi encontrada nenhuma ligação entre o consumo de tagatose e o declínio cognitivo.
“Embora tenhamos encontrado ligações ao declínio cognitivo para pessoas de meia-idade, tanto com quanto sem diabetes, pessoas com diabetes são mais propensas a usar adoçantes artificiais como substitutos do açúcar”, disse Suemoto. “Mais pesquisas são necessárias para confirmar nossas descobertas e investigar se outros alternativas ao açúcar refinado, como purê de maçã, mel, xarope de bordo ou açúcar de coco, podem ser alternativas eficazes.”
Uma limitação do estudo foi que nem todos os adoçantes artificiais foram incluídos. Além disso, as informações sobre a dieta foram relatadas pelos participantes, que podem não ter se lembrado com precisão de tudo que comeram.
O estudo foi apoiado pelo Ministério da Saúde do Brasil, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.