A Consolidação nas Comunicações é Inevital, Segundo CEO da Meo

A CEO da Meo declarou, em entrevista à Lusa, que a consolidação do setor, tanto a nível europeu quanto nacional, será inevitável, e que o programa de saídas voluntárias da Meo ainda está em andamento.
Ana Figueiredo também mencionou que o objetivo da Meo é duplicar a receita ‘não telco’ [que não corresponde a telecomunicações] nos próximos três anos.
Ao ser questionada sobre a consolidação do setor, a executiva afirmou que a necessidade de consolidação no mercado nacional “é inevitável, e no cenário europeu é ainda mais premente”, considerando que existem aproximadamente 40 operadores de telecomunicações para uma população “ligeiramente superior à dos Estados Unidos”, que possui apenas três grandes operadores.
Portugal conta com cerca de 10 milhões de habitantes e quatro operadores, enquanto a Espanha tem, possivelmente, cinco ou seis vezes mais habitantes. Mesmo assim, França e Alemanha, que têm oito vezes mais população, mantêm os mesmos quatro operadores, observa a gestora.
Por isso, “acredito que a consolidação será necessária e inevitável”, pois em tecnologia “a escala é tudo”.
Ana Figueiredo exemplifica com grandes empresas de tecnologia que operam em uma escala global e não apenas nacional. Quando essas empresas iniciaram seus investimentos, sempre tiveram um enfoque no mundo, e não apenas em uma geografia ou território específico.
Neste âmbito global, “devemos ser capazes de competir de forma igualmente global, com capacidade e músculo”, enfatiza.
A CEO da Meo argumenta que Portugal “precisa considerar seriamente que somente através de uma política industrial forte” será possível “garantir sua soberania digital”, especialmente com a iminência de dois blocos de poder que poderiam tornar o país mais vulnerável no contexto internacional.
As telecomunicações são um setor “fundamental”, assim como é igualmente vital garantir a soberania energética do país, sublinha.
<p“Daí, a soberania energética e a soberania digital estão quase como duas revoluções ocorrendo simultaneamente”, tornando essencial garantir isso do ponto de vista econômico e nacional.
Em relação ao programa de saídas voluntárias da Meo, Ana Figueiredo não forneceu números, uma vez que o processo ainda está em curso.
“Este programa foi concebido para que possamos renovar as competências na nossa empresa” e “pensando na geração que provavelmente irá sair, uma geração que fez contribuições importantes, mas que, devido aos desafios que enfrentamos, precisamos agora renovar essas competências e trazer novas habilidades para a empresa”, esclareceu a CEO.
O programa “não está completamente fechado, mas representa uma oportunidade e está alinhado com a renovação do nosso nível operacional e da automação e investimento que temos realizado nos últimos anos”, acrescentou.
Recentemente, “finalizamos o ‘onboarding’ [integração] de novos estagiários na empresa” e “continuaremos a recrutar competências-chave, reforçando as habilidades que consideramos essenciais para o presente e futuro da Meo.”
Em 11 de setembro, teve início o estágio de 24 jovens nas áreas de STEM [ciência, tecnologia, engenharia e matemática], e no mesmo dia, 50 ex-estagiários se uniram aos quadros da empresa na edição 2024/2025.
“Deixamos claro que não estamos substituindo pessoas por máquinas; estamos, na verdade, renovando competências que serão necessárias para levar a Meo a um novo patamar”, afirma a CEO.
Referindo-se à diversificação, Ana Figueiredo destacou que a Meo é um operador integrado.
“Somos o único operador no mercado que possui todas as infraestruturas”, englobando satélites, data centers, estações de amarração de cabo submarino, rede de fibra ótica e 5G, representando assim “o tradicional do operador de telecomunicações”.
“Nossa diversificação de receita provém, evidentemente, da aposta no segmento B2B [empresarial], envolvendo tudo relacionado a componentes de TIC, combinando conectividade com TI e segurança digital”, explica.
Do lado do consumidor, “temos inovado, oferecendo mais serviços ao nosso público, como a Meo Energia, e também desenvolvendo nossa atividade através da Labs”, que passou de um laboratório a um centro ou linha de negócio, exportando tecnologia portuguesa para outros países e geográficas, o que permite expandir além-fronteiras.
“Temos a ambição de continuar a crescer, liderar e estabelecemos como objetivo duplicar a receita não telco nos próximos três anos”, declara.
Tudo isso “preparando a empresa para os grandes desafios que se avizinham, seja em inteligência artificial, e nos posicionando para sermos um ‘player’ relevante em edge computing”, aproveitando as infraestruturas únicas que possuímos, e “acredito que temos a estratégia correta para enfrentar esses desafios”, ressalta.
Contudo, “é fundamental para o país” criar um cenário que possa acelerar o investimento e não o contrário, reforçando a importância de uma política industrial e uma regulamentação “adequada e equilibrada”, conclui.